1 de ago. de 2005

Podcasting: primeiros passos para entender e ouvir

Podcasting: primeiros passos para entender e ouvir

Se você ainda não sabe muito bem o que é podcasting, pode ser uma boa hora para aprender. Nos últimos meses, essa palavra, que descreve uma forma de circular arquivos de som em MP3 pela Internet, escapou dos círculos de "iniciados" e ganhou a atenção da imprensa.

Músicas, trechos de músicas, narrações, sons avulsos, entrevistas ou a mistura disso tudo em MP3 não são novidade na internet. A novidade trazida pelo podcasting é que, com ele, é possível, para um ouvinte, receber automaticamente as novas edições de um programa de rádio sem que tenha de visitar a todo o momento o site em que ele é produzido. A cada nova edição do programa, ou podcast, neste caso, o ouvinte é notificado e o programa é automaticamente baixado em seu computador.

Depois disso, é só escutar o podcast. No próprio micro ou num tocador portátil de MP3. Apesar do nome dessa tecnologia estar associada ao player iPod, da Apple, qualquer marca de tocador portátil de MP3 pode reproduzir um podcast (arquivo transmitido via podcasting). O lema do podcasting, aliás, é: "ouça seu programa favorito quando e onde você quiser".

Atraídos por essa promessa, só nos Estados Unidos, cerca de 11 milhões de ouvintes já compõem o público de podcasts, segundo artigo de John Markoff, repórter especial de tecnologia do The New York Times, publicado em abril. É um número comparável à população da cidade de São Paulo (10,4 milhões) e impressionante para uma tecnologia que não tem um ano de vida.

Para receber um podcast, basta que o ouvinte faça uma assinatura do programa que lhe interessa, adicionando o endereço específico da transmissão em seu software de podcast. O fato dessas assinaturas e programas serem gratuitos é outro atrativo do podcasting.

Em tese, o podcasting poderá transformar qualquer internauta num radialista. Hoje, gravar um programa de rádio em MP3 está ao alcance de qualquer pessoa que tenha um computador equipado com programas para edição de áudio, que também podem ser gratuitos, sem depender de concessões governamentais nem de equipamentos caros. O que ainda representa custo é a hospedagem dos arquivos MP3 em sites que permitam o download desse formato.

"No Brasil, o preço de espaço em disco para hospedagem de arquivo ainda é alto", afirma Sérgio Teixeira Jr., jornalista e apresentador do podcast "Ultra Studio". "A velocidade com que esses arquivos podem ser baixados dos sites nacionais também não é muito boa, o que pode deixar o download muito lento e também derrubar seu programa, caso várias pessoas resolvam baixá-lo ao mesmo tempo".

Teixeira utiliza o servidor Godaddy.com, americano, para hospedar o seu programa: "Pago cerca de 30 reais (US$ 9,95) por mês e não tenho de me preocupar com a quantidade de pessoas que baixam os meus programas. O plano oferece 100 gigabytes de transferência de arquivos por mês e 2 giga para arquiVO". Segundo o apresentador, é possível guardar cerca de 40 programas de uma hora nesse espaço. Num servidor brasileiro, como o Locaweb.com, por exemplo, um plano semelhante custaria mais de R$ 300.

Feito e armazenado seu podcast, basta inscrevê-lo (gratuitamente) em sites como o "Podcast Alley" ou "Podcasting News", que oferecem serviço de busca para podcasts cadastrados, publicam rankings e mantêm fóruns para leitores da "comunidade" de produtores e ouvintes. O "Alley", por exemplo, tem mais de 5 mil podcasts inscritos e resenhados, e o "News" publica uma lista com os últimos 100 podcasts cadastrados.

O podcasting parece, por enquanto, uma utopia tornada realidade. Por um lado, ele dá liberdade para o ouvinte, que pode escolher o que ouvir, quando e onde. Por outro, amplifica o alcance de programas dentro de uma comunidade de ouvintes. Tudo isso, de graça.

De fato, até agora, todos os podcasts são gratuitos. Mas um dos pais da idéia, o empresário Adam Curry (ex-VJ da MTV americana), declarou em entrevista à revista Newsweek, em dezembro de 2004, que estaria em negociações para transformar o podcasting em um "negócio rentável".

Ainda não é possível afirmar se "negócio rentável", neste caso, quer dizer que os podcasts passarão a ser cobrados. O empresário Mark Cuban, dono da empresa de streaming Audionet, vê no podcasting limitações para seu uso comercial. Uma das mais graves, segundo ele, é a impossibilidade se de usar o podcasting para transmissões ao vivo --o que limitaria sua aplicação jornalística. Mesmo assim, diversas empresas noticiosas, como a BBC, CNN, ESPN e ABC já aderiram ao podcasting como forma de disponibilizar seus programas em arquivo.

A questão de direitos autorais também é um aspecto que enevoa o futuro do podcasting de programas musicais. Ao contrário do streaming, um podcast musical pode ser considerado uma forma de distribuição gratuita de música online, por ser, essencialmente, um download de músicas em MP3.

Para contornar essa interdição, muitos podcasts musicais, como o "Tracks up the Tree", incluem em sua programação apenas faixas promocionais que já estão na Web, oferecidas nos sites oficiais das bandas. Como, em geral, apenas grupos independentes ou de música chamada "alternativa" fazem isso, o podcasting tem se tornado um veículo desses estilos musicais.

Outro podcast que se dedica à divulgação de bandas independentes é o brasileiro "Projeto Mim", da cantora carioca Mariana Eva, que traz em seus programas entrevistas com DJs e músicos, e apresenta a cada edição duas bandas "indie" nacionais, como Leela, Frank Jorge e Djangos, que já passaram pelo podcast.

Enquanto a "podosfera" (nome que se dá ao universo dos podcasts, com seus programas, criadores e ouvintes) ainda é um território livre, ela ainda serve de veículo a programas que se parecem muito a um produto irmão do podcast: o blog. O parceiro de Curry na criação do podcast, aliás, é ninguém menos que Dave Winer, o "pai" dos blogs e da tecnologia "xml" que está na base do podcasting. Linguagem de programação de páginas Web, que, no caso do podcasting, permite que um internauta seja avisado quando há novos programas no site.

Assim como acontece no universo dos blogs, em que imperam textos sobre a vida pessoal de seus usuários, a maior parte dos podcasts é composta por programas em que os apresentadores falam de suas próprias experiências. No "Dawn and Drew Show", segundo lugar no Top 10 de julho do site "Podcast Alley", um casal de ex-punks fala sobre sua vida doméstica num programa que pode chegar a quase uma hora de duração, sem interrupção e sem música.

O próprio Curry, que em geral dedica seu programa a assuntos relacionados a podcasting, em sua edição mais recente, com cerca de 30 minutos, falou sobre assuntos aleatórios, numa volta pelos arredores do hotel em que estava hospedado em São Francisco. Andando pela rua, o apresentador conversou com mendigos, entrevistou turistas russos e costurou tudo com muito papo furado.

Programas de tecnologia também fazem muito sucesso na podosfera. O número um do ranking é "This Week in Tech", um resumo dos acontecimentos semanais na área de tecnologia, computadores e Internet. Além deste, mais três programas sobre o assunto estão entre os dez mais populares do "Alley".

Para se aventurar pela podosfera, é preciso ter um programa agregador (o mais popular é o iPodder) para fazer as assinaturas e o download dos podcasts, e de um programa que leia arquivos MP3, como o Windows Media Player, Winamp ou Real Audio, que servem para ouvir os podcasts efetivamente. A versão mais recente do iTunes (4.9), da Apple, condensa em si essas duas funções, permitindo fazer o cadastro, download e audição de um podcast sem necessidade de outro software. Todos esses programas podem ser copiados da Web gratuitamente.

Para produzir seu próprio podcast, é preciso ter um kit multimídia completo, com placa de som, microfone e caixas de som (ou fones de ouvido). Além disso, é necessário ter um programa de gravação e edição de áudio em seu computador. Alguns kits multimídia já vêm um programa para isso. Senão, é possível encontrar na Web programas gratuitos, como o Audacity, que permitem capturar sons, editá-los e exportar em formato MP3.

Uma vez na podosfera, é importante dar uma "limpada" periódica no computador, para deletar todos os podcasts que você já baixou no seu tocador remoto de MP3 ou simplesmente para apagar edições antigas. Um podcast de meia hora pode chegar a ter quase 30 Mega (e demorar cerca de 5 minutos para baixar em banda larga). Com o passar do tempo, o acúmulo desses arquivos vai "entulhando" seu computador, até que não seja mais possível baixar novos podcasts por falta de espaço.